E QUEM SEMPRE COMEU MELADO?
Para Tito, amigo inesquecível.
Iraci del Nero da Costa
São Paulo, janeiro de 2012
O prefeito Gilberto Kassab, cujo oportunismo rasteiro é amplamente reconhecido por analistas políticos das mais variadas posturas, dá provas de sua ilusória e descarada matreirice ao tentar aproximar-se, concomitan-temente, de vários candidatos considerados aptos a obterem êxito nas próximas eleições municipais de São Paulo. E o faz de modo aberto, certamente numa tentativa de elevar o preço e a valia de seu apoio a este ou àquele pretendente a sucedê-lo no governo dos paulistanos. Dá sequência, assim, de maneira ainda mais grosseira à política de apoios universais adotada pelo ex-presidente Luiz Inácio L. da Silva, mestre consagrado na junção de alhos com bugalhos.
Destarte, o prefeito Kassab procura escorar-se num tripé desconexo, porém vigoroso: em seu próprio partido, para não perdê-lo; nos velhos aliados do PSDB, para demonstrar fidelidade a acordos passados e no PT do ex-presidente e da atual presidente da República, cujo despreparado candidato poderá ser alavancado, marionete que é, pelas prestigiosas mãos desses seus dois mais destacados apoiadores.
E assim segue a carruagem de um político inexpressivo que só pôde vicejar no paupérrimo e infértil terreno político ao qual fomos conduzidos pelo ex-presidente Luiz Inácio L. da Silva e seus acólitos, grande parte dos quais viu-se ejetada da carroça presidencial em decorrência da prática de atos tidos como ilegais.
O mais impressionante nessas movimentações aparentemente caóticas do atual prefeito de São Paulo é o total descaso com respeito à consciência do eleitorado, pois, para ele, mostra-se relevante, tão somente, o trabalho a ser desenvolvido pelos manipuladores do voto popular. No âmbito dessa situação agônica vemos fenecer a vida política minimamente aceitável e florescer o oportunismo despudorado.
De outra parte, pouco se pode prever com relação a esse jogo aviltante. Terá ele o condão de desqualificar o prefeito em tela? Muito provavelmente não, pois tudo poderá ser visto como meros negaceios plenamente aceitáveis no mundo político corrente. Afetará o PSD e seu desempenho nas eleições vindouras? Talvez sejam criados problemas internos gerados pela desconfiança despertada pelas ações de seu líder máximo; neste caso, as trocas de favores sempre mostrar-se-ão capazes de superar eventuais querelas. Abalar-se-á o relacionamento com o padrinho e a madrinha da candidatura do PT? Certamente não, pois estão eles acostumados a uma vivência política igualmente sem princípios.
Cumpre lembrar, por fim, que até o momento nenhum candidato repudiou com clareza os meneios do chefe político do PSD, embora todos se mostrem ressabiados em face das atitudes inescrupulosas e velhacas de um político sem compromisso ideológico algum e capaz de faltar com o respeito devido ao candidato do próprio PSD cujo nascimento ele mesmo promoveu, partido este o qual, segundo suas palavras: "não será de direita, não será de esquerda, nem de centro".
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