29.1.12

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E QUEM SEMPRE COMEU MELADO?




Para Tito, amigo inesquecível.

Iraci del Nero da Costa
São Paulo, janeiro de 2012



    O prefeito Gilberto Kassab, cujo oportunismo rasteiro é amplamente reconhecido por analistas políticos das mais variadas posturas, dá provas de sua ilusória e descarada matreirice ao tentar aproximar-se, concomitan-temente, de vários candidatos considerados aptos a obterem êxito nas próximas eleições municipais de São Paulo. E o faz de modo aberto, certamente numa tentativa de elevar o preço e a valia de seu apoio a este ou àquele pretendente a sucedê-lo no governo dos paulistanos. Dá sequência, assim, de maneira ainda mais grosseira à política de apoios universais adotada pelo ex-presidente Luiz Inácio L. da Silva, mestre consagrado na junção de alhos com bugalhos.
            
    Destarte, o prefeito Kassab procura escorar-se num tripé desconexo, porém vigoroso: em seu próprio partido, para não perdê-lo; nos velhos aliados do PSDB, para demonstrar fidelidade a acordos passados e no PT do ex-presidente e da atual presidente da República, cujo despreparado candidato poderá ser alavancado, marionete que é, pelas prestigiosas mãos desses seus dois mais destacados apoiadores.
                
    E assim segue a carruagem de um político inexpressivo que só pôde vicejar no paupérrimo e infértil terreno político ao qual fomos conduzidos pelo ex-presidente Luiz Inácio L. da Silva e seus acólitos, grande parte dos quais viu-se ejetada da carroça presidencial em decorrência da prática de atos tidos como ilegais.
            
    O mais impressionante nessas movimentações aparentemente caóticas do atual prefeito de São Paulo é o total descaso com respeito à consciência do eleitorado, pois, para ele, mostra-se relevante, tão somente, o trabalho a ser desenvolvido pelos manipuladores do voto popular. No âmbito dessa situação agônica vemos fenecer a vida política minimamente aceitável e florescer o oportunismo despudorado.
             
    De outra parte, pouco se pode prever com relação a esse jogo aviltante. Terá ele o condão de desqualificar o prefeito em tela? Muito provavelmente não, pois tudo poderá ser visto como meros negaceios plenamente aceitáveis no mundo político corrente. Afetará o PSD e seu desempenho nas eleições vindouras? Talvez sejam criados problemas internos gerados pela desconfiança despertada pelas ações de seu líder máximo; neste caso, as trocas de favores sempre mostrar-se-ão capazes de superar eventuais querelas. Abalar-se-á o relacionamento com o padrinho e a madrinha da candidatura do PT? Certamente não, pois estão eles acostumados a uma vivência política igualmente sem princípios.
             
    Cumpre lembrar, por fim, que até o momento nenhum candidato repudiou com clareza os meneios do chefe político do PSD, embora todos se mostrem ressabiados em face das atitudes inescrupulosas e velhacas de um político sem compromisso ideológico algum e capaz de faltar com o respeito devido ao candidato do próprio PSD cujo nascimento ele mesmo promoveu, partido este o qual, segundo suas palavras: "não será de direita, não será de esquerda, nem de centro".
        
             
                
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5.1.12

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O EPISÓDIO DO “MENSALÃO” COMO MARCO HISTÓRICO



Para Tito, cuja ausência se fez presença perene.

Iraci del Nero da Costa



     Em vez de aniquilar o governo petista, o episódio do “mensalão” projetou-o “para a frente e para o alto”. Tal impulso resultou, de fato, da utilização imediata por parte do presidente Luiz Inácio L. da Silva do programa assistencialista herdado do governo Fernando Henrique Cardoso, transformando-o em verdadeiro Coronelismo Governamental. (1) 
                
     Na verdade, o impacto gerado pela aludida crise revelou àquele hábil presidente – dado o pronto e incondicional apoio recebido de milhões de miseráveis os quais já contavam com o auxílio propiciado pelas práticas assistencialistas oferecidas pelo Estado – a imensa potencialidade política dos programas de ajuda aos mais carentes. Fechou-se, assim, a equação político-econômica cujo perfil já vinha se desenhando desde o início de seu governo; destarte, verificou-se ser possível garantir-se, com cerca de 5,5% do PIB, a boa vontade e o beneplácito das camadas economicamente dominante, e, com algo como 0,4% do mesmo indicador, comprar-se a aprovação, e posteriormente o voto, de milhões de desvalidos interessados, sobretudo e compreensivelmente, em receber uns poucos trocados de que tanto necessitam para viverem menos indignamente. Deu-se, assim, a manipulação política de uma oportuna ação de caráter assistencial, a qual conheceu o alargamento de seu campo de abrangência e passou a receber atenção redobrada no discurso presidencial.
              
     Luiz Inácio L. da Silva estendeu às camadas mais desprotegidas de nossa população a degradação política e ideológica a qual, marca secular da elite política e econômica do Brasil, a pouco e pouco espraiou-se pelos demais segmentos socioeconômicos da Colônia, depois Nação. Encerra-se, dessa maneira, mais um ciclo de nossa história, pois se pode afirmar achar-se toda nossa população engolfada pela degeneração política em sua forma de pensar, de agir e, sobretudo, de votar. Na realidade, a camada mais despossuída do eleitorado já conhecia tal modo perverso de agir, pois votava por interesse imediato e pessoal. A novidade introduzida por Luiz Inácio L. da Silva foi a de substituir os inúmeros “coronéis” de sempre pelo apoio ao seu governo e a si mesmo como líder carismático. Os seus sucessores na presidência da República certamente adotarão postura semelhante, de sorte a chamarem para si tal apoio e tais votos.
                
     Político rasteiro, porém sagaz, utilizou-se do Coronelismo Governamental para safar-se, pessoalmente, dos crimes e falcatruas perpetrados por seus mais chegados Ministros e auxiliares. Se é difícil aceitar que tais perversões não eram de seu conhecimento, muito fácil é admitir a ideia de ter sido ele o responsável pela compra de milhões de votos aos quais deveu-se sua reeleição e propiciaram a eleição de sua sucessora.
                       
     Encerra-se um ciclo e abre-se outro sobre o qual pouco se pode falar, pois não é possível distinguir por quanto tempo viveremos dominados pela possibilidade aberta ao presidente da República de comprar, mediante altas taxas de juros e práticas assistencialistas de caráter clientelístico, a própria reeleição ou a consagração de um seu apaniguado qualquer.
    
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1. Sobre esta questão chamamos a atenção do leitor para nossos artigos: COSTA, Iraci del Nero da. A voz do povo. Informações FIPE [boletim eletrônico]. São Paulo: FIPE, n. 309, p. 21-23, jun. de 2006. Disponível em:
http://www.fipe.org.br/Publicacoes/downloads/bif/2006/7_21-23-IRACI.pdf . COSTA, Iraci del Nero da. Brasil: os mesmos atores e novos papéis? Informações FIPE [boletim eletrônico]. São Paulo: FIPE, n. 312, p. 25-26, set. de 2006. Disponível em:
http://www.fipe.org.br/publicacoes/downloads/bif/2006/1_bif312.pdf. COSTA, Iraci del Nero da. Da política desenvolvimentista ao clientelismo de Estado. São Paulo, texto com divulgação pela Internet, setembro de 2007. Disponível em: http://iranero.blogspot.com/2007_09_01_archive.html. COSTA, Iraci del Nero da. Brasil: população redundante e coronelismo governamental. Fênix – Revista de História e Estudos Culturais. Uberlândia, v. 8, ano VIII, n. 3, set/dez de 2011. Disponível em: http://www.revistafenix.pro.br/.  
                 
             
               
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1.1.12

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BRASIL: A IMPOTÊNCIA DE NOSSOS TRÊS PODERES


PARA TITO, CUJA AUSÊNCIA SE FEZ PRESENTE PARA SEMPRE
                    
IRACI DEL NERO DA COSTA
São Paulo, 1 de janeiro de 2012

No Brasil, como fartamente noticiado, o Poder Judiciário vê-se envolvido em um mesquinho embate interno decorrente do corporativismo de alguns de seus membros que tentam obstar ações do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) o qual se encontra empenhado em investigar distintas facetas delituosas existentes em resoluções adotadas por integrantes irresponsáveis de instâncias estaduais do aludido poder.
                      
Ademais o Supremo Tribunal Federal tem-se mostrado pouco decidido a garantir a independência daquele Conselho, pois alguns dos ministros da suprema corte brasileira, mediante a concessão de liminares, parecem interessados em limitar o poder de investigação do CNJ, restringindo-o a órgão meramente decorativo.
                      
Não obstante a referida pequenez do entrevero ora em curso, tal luta parece-nos das mais salutares, pois desvela a mediocridade de uma parcela dos componentes de um poder considerado, por larga fatia da população, como austero e conspícuo.
                  
A exposição de algumas mazelas de nossa magistratura complementa o triste panorama com o qual os brasileiros nos deparamos ao refletirmos sobre nossos três poderes maiores sem o ranço carreado por falsas perspectivas ideológicas e deixado de lado o parti pris partidário.
                  
Dessarte, o Executivo Central acha-se corroído pela destituição de uma série de Ministros de Estado cujos cargos foram perdidos em decorrência de denúncias de atos corruptos ou ilegais imputados aos próprios ministros ou a seus auxiliares mais próximos. Alguns Governadores de Estado sofrem acusações recorrentes de variados feitios enquanto Prefeitos Municipais são cassados com base na alegação de que praticaram ou foram coniventes com respeito à malversação de recursos públicos.
                     
O Poder Legislativo, por seu turno, de há muito desacreditado, padece, em seus distintos níveis, de um sem número de procedimentos condenáveis que vão do nepotismo à venda de votos, passando pelo privilégio ilegal emprestado a instituições de fachada e por um conjunto inumerável de outros crimes.
                 
A assim chamada Lei da Ficha Limpa, com a aplicação da qual se tenta impedir a candidatura de malfeitores a qualquer cargo eletivo, atesta o quanto há por fazer nos terrenos enlameados tanto do legislativo como do executivo, elementos garantidores de uma vivência plenamente democrática tamanhamente desprezados por um grande número de políticos que a eles se aferram para deles se servirem maliciosamente.
                     
Enfim, sobretudo a contar da vigência da "Constituição Cidadã", a redemocratização da vida política nacional possibilitou, segundo escala anteriormente desconhecida, aos eleitores e à massa da população brasileira defrontarem-se, abertamente, com as pústulas que cobrem um vasto campo de nossas relações socioeconômicas e políticas, fazendo-se presentes também, e com força inaudita, nos três poderes magnos da nação.
                    
                      
                   
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