4.10.10

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RUMO AO DESARRUMO

Iraci del Nero da Costa
São Paulo, 4 de outubro de 2010


A meu ver, como já tive oportunidade de fazer notar, o voto em tiriricas de variados tipos não representa um movimento de protesto dos eleitores, mas expressa, basicamente, desinformação ou mero descaso.

O desprestígio do poder legislativo vem aumentando no correr dos últimos mandatos presidenciais. Tal desvalimento deve ser atribuído não só à "qualidade" dos serviços prestados pelo Congresso à nação, mas, em proporção igual ou ainda superior, à ação do poder Central ou das autoridades que o orbitam, cujo comportamento com respeito ao legislativo distingue-se pela manipulação desabrida, inclusive com a despudorada compra de votos tão fartamente documentada tanto no governo FHC como no atual.

Além disso, nossas casas congressuais conhecem uma continuada desvalorização decorrente do desprezo com que são tratadas pelo poder Executivo; menosprezo esse consubstanciado, por exemplo, no teor despropositado ou no número muito elevado de medidas provisórias propostas pelos últimos presidentes da República.

Assim, o comportamento do corpo eleitoral reflete, tão somente, o próprio aviltamento que o legislativo se impõe, degradação essa reforçada amplamente pelo achincalhamento gerado no âmbito do governo Central.

Ademais, como me foi dado observar em vários escritos, a maneira mediante a qual ocorreu a autonomização de extensa parcela populacional economicamente desprivilegiada, calcada que esteve numa forma de assistencialismo por mim caracterizada como Clientelismo de Estado, trouxe consigo inequívoco retrocesso político, o qual, em face da questão em foco, pode ser sintetizado por uma afirmação das mais singelas: "Tenho um amigo que me protege na presidência da República, por isso não preciso me preocupar com deputados e coisas assim..."

Enfim, o fenômeno verificado na escolha de deputados nestas eleições de 2010 significa, infelizmente, um passo a mais na involução assinalada acima.



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