9.6.06

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PAROLE, PAROLE, PAROLE... SOLTANTO PAROLE
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Iraci del Nero da Costa
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Inúmeras falácias empanam as pseudo análises efetuadas em todos os âmbitos nos quais se travam debates políticos entre nós. Tanto "leigos" como "profissionais" incorrem em tais equívocos os quais podem ser referidos às tão denunciadas distorções de caráter ideológico cujo objetivo último é embair os incautos.
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Assim, fala-se de governos de esquerda obrigados a vergarem-se ao neoliberalismo. Ora, governos de esquerda aplicam medidas de "esquerda", aqueles preocupados em implementar práticas neoclássicas são, obviamente, governos de direita! De acordo com o raciocínio em tela, os "esquerdistas", ao se defrontarem com a realidade (assumindo o poder), viram-se obrigados, pela natureza das coisas, a reconhecer a validade daquelas práticas. Na verdade, governantes eleitos como se fossem de esquerda assumiram suas reais posições políticas ao galgarem o poder. Como diria Hegel, o "direitismo" estava lá (em potência, dynamei) e veio a se explicitar com a chegada de seus portadores aos cargos para os quais foram escolhidos pelos eleitores.
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De outra parte, não se trata de nenhuma "força natural" a se impor aos políticos, pois as decisões políticas colocam-se na esfera da cultura e não na órbita da natureza; esse apelo ao "natural", ou naturalização do social, é uma reminiscência das mais pobres e grosseiras do positivismo, fabulação esta absolutamente obsoleta e já abandonada há mais de um século por pensadores conscienciosos. Como sabemos, ao dizer ser "natural" tal ou qual fenômeno pretende-se fazer com que ele seja aceito, sem discussão, como um fato verdadeiro e irrecorrível, pois se trata de um algo posto pela natureza, contra a qual não se pode antepor nenhum argumento. Como é óbvio, os governantes têm de ser considerados por sua efetiva maneira de ser e de agir, e não pelo que aparentavam ser, ou prometiam vir a fazer, quando ainda eram meros candidatos.
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Outra inverdade muito difundida está na afirmação segundo a qual a cobrança a recair sobre o atual presidente da República seria excessiva, ultrapassando largamente a padecida pelos governantes anteriores, particularmente a dirigida contra o governo FHC. Trata-se da própria negação da atividade intensa exercida por décadas pelo PT, o qual, pertinentemente diga-se, sempre cuidou de apontar os erros e omissões dos distintos governantes aos quais se opôs. Quanto a FHC, foi ele argüido desde sua posse; tal pressão fez famosa a frase "Esqueçam tudo que eu escrevi". Ademais, tem-se de lembrar que, na verdade, havia menos a cobrar de um governo do qual não se esperava a implementação de reformas de grande monta. De outra parte, e isso é crucial e definitivo, FHC foi tão duramente criticado que, não só não fez seu sucessor, mas se viu sucedido por um candidato sobre o qual concentraram-se as esperanças de mudanças almejadas de há muito por nossos segmentos populacionais menos favorecidos e por todas as correntes de esquerda existentes no país. Além disso, e quanto a este ponto parece haver concordância universal, as ilegalidades incorridas pelos governos anteriores só não se viram expostas à luz do dia ou porque o PT, e as esquerdas em geral, não se mostraram eficientes o bastante para demonstrá-las, ou porque não foram elas cometidas de maneira tão escancarada como a observada no atual governo.
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Cumpre lembrar, por fim, que já tratamos em outros textos da utilização de um grosseiro falseamento ideológico quanto ao significado do termo "populismo" (1) assim como do uso indevido da idéia de que teria havido, na América Latina, uma ascensão de partidos ou de movimentos de esquerda ao poder; da associação das políticas assistencialistas hodiernas – presentes em várias nações latino-americanas – com programas de redistribuição de renda, quando na verdade estamos em face de um verdadeiro "Clientelismo de Estado"; e da idéia do renascimento do nacionalismo protecionista como decorrência do aumento do preço do petróleo no mercado internacional. (2)
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NOTAS
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(1) Cf. COSTA, Iraci del Nero da & VALENTIN, Agnaldo. O populismo como réu. Informações FIPE [boletim eletrônico]. São Paulo, FIPE, n. 302, p. 22-24, 2005.
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(2) Cf. COSTA, Iraci del Nero da. Observações sobre equívocos terminológicos. São Paulo, texto com divulgação pela Internet, maio de 2006.
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