11.2.12

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A DEMOCRACIA PLENA E OS DIREITOS DE CIDADANIA APONTAM PARA ALÉM DO CAPITALISMO

Para Tito, amigo inesquecível.

Iraci del Nero da Costa



A democracia – entendida aqui como a estrita obediência às decisões tomadas pela maioria, conforme normas de legalidade permanentes e consensuais e com total observância do respeito devido aos direitos e à livre expressão e organização das minorias – assim como os direitos de cidadania – os quais, a nosso juízo, consubstanciam, obviamente num todo uno, o conjunto dos direitos do homem e do cidadão – assumiram, no século XXI, papel central quanto ao caminho futuro da história da humanidade e, em particular, quanto aos destinos das correntes políticas de esquerda. 

A condicionar tal relevância primordial conjugam-se quatro fatores deletérios basilares: a definitiva derrocada do socialismo real; o processo de globalização o qual se caracterizou, basicamente, pela mundialização dos interesses das grandes corporações e conglomerados econômicos e do qual decorreu a internalização de tais interesses por parte das nações periféricas; a maneira irracional e calcada em inverdades da reação dos EUA em face dos ataques terroristas pelos quais foram vitimados e o caráter reacionário do pensamento ideológico que, a contar de então, passou a predominar largamente no seio de alguns de seus principais grupamentos políticos e, por fim, o novo papel assumido pela China tanto no âmbito político como, sobretudo, no cenário econômico mundial. Consideremos mais detidamente os fenômenos aqui apontados e as implicações políticas que deles poderão decorrer. 

A superação efetiva do chamado socialismo real trouxe, para a ordem do dia dos teóricos da esquerda de corte marxista, como item essencial, a necessidade de um verdadeiro aggiornamento ideológico. Parece ter ficado evidenciado claramente representarem a democracia e os direitos de cidadania componentes fulcrais de qualquer formulação comprometida com o estabelecimento de uma sociedade apta a oferecer ao homem condições de vida material e de existência espiritual superiores às vigentes no modo de produção capitalista. Logo, é impossível pensar-se uma nova forma de sociabilidade – socialista, caso se queira chamá-la assim – sem admitir que ela terá de assentar-se, necessariamente, sobre três princípios fundamentais: a inexistência da propriedade privada sobre os meios de produção, a vivência democrática e o absoluto acatamento dos direitos de cidadania tomados em sua integralidade; sobre estas questões, permitimo-nos lembrar o artigo de COSTA, Iraci del N. & MOTTA, José F. Hegel e o fim da história: algumas especulações sobre o futuro da sociabilidade humana. Revista da Sociedade Brasileira de Economia Política. Rio de Janeiro: Editora 7 Letras, n. 7, dez. 2000, p. 33-54.

Destarte, garantir a plena vigência da democracia e "lutar" pelo socialismo, além de se mostrarem tópicos políticos indissociáveis, correspondem a um só e único objetivo, não podendo, portanto, ser contemplados como instâncias táticas e/ou estratégicas distintas. 

Fixado este primeiro ponto, atenhamo-nos às questões suscitadas pela globalização.

A adoção de práticas econômicas ditadas pelos neoclássicos e incorporadas pela ideologia neoliberal acarretou, tanto em países mais avançados como em nações subdesenvolvidas, um leque de retrocessos socioeconômicos no qual compareceram, com distintos graus de intensidade, as seguintes mazelas: especulação financeira desenfreada e descontrolada, maior concentração da renda e da riqueza, desindustrialização e dependência crescente com respeito à exportação de bens primários; a par disso, aumentou a dependência dos mais pobres com respeito a práticas assistencialistas do Estado e não ocorreram mudanças significativas no âmbito dos serviços sociais em geral: saúde, educação, segurança e habitação. Correlatamente, em muitas nações o desemprego atingiu níveis dramáticos e a emigração desordenada aumentou substantivamente, de sorte a afetar a vida de milhões de pessoas a cujas carências materiais somaram-se incontáveis padecimentos de ordem moral e o dolorido desenraizamento com respeito às suas plagas natais. Não obstante o tamanho incomensurável dos prejuízos já havidos, notadamente nas nações europeias em crise poderão vir a se dar novos cortes na esfera econômica e na órbita de direitos trabalhistas de há muito adquiridos. 

Enfim, para os desprivilegiados, a globalização sinonimiza com perdas econômicas e políticas, sendo de se esperar a ocorrência de mais pressões nesses dois campos. Assim, apenas a resistência democrática e a reconquista dos direitos perdidos serão capazes de barrar os avanços das práticas lesivas impostas pela globalização. Disso se infere a existência de um elo imediato entre o combate ao neoliberalismo e a ação voltada à defesa dos direitos democráticas e de cidadania.

Vejamos, num terceiro lapso, os problemas afetos à traumática atuação político-militar, em escala planetária, dos norte-americanos. 

Embora a guerra promovida no Afeganistão contra seus ex-parceiros do Talibã e da Al Qaeda e a desencadeada no Iraque contra um outro seu ex-aliado representem a continuidade da política intervencionista norte-americana, sobretudo a aventura contra Saddam Hussein, enriqueceu sobremaneira o currículo do militarismo dos EUA. Como sabido, a motivação aventada para a derrubada do regime iraquiano cingiu-se a um aranhol de mentiras e de informações forjadas as quais não resistiram à análise mais superficial e encontraram na ONU e nos próprios parceiros dos EUA seus primeiros críticos; isso para não lembrar os norte-americanos isentos que, desde a primeira hora, postaram-se contra o discurso insano de George W. Bush e as descabidas operações de guerra por ele capitaneadas. De toda sorte, o mínimo a dizer é que a farsa tragicamente encenada no Iraque significou um golpe dos mais fortes contra as normas consensualmente pactuadas no âmbito da ONU e consagradas pelo direito internacional e uma clara falta de subordinação à verdade dos fatos, sem a qual é impossível imaginar-se um mundo autenticamente democrático.

Ademais, as humilhações, torturas e cerceamento extremado dos direitos – internacionalmente reconhecidos – dos prisioneiros mantidos, no passado e no presente, nas prisões norte-americanas existentes no Afeganistão, no Iraque e em sua base cubana de Guantánamo demonstram como as forças militares norte-americanas estão dispostas a levar a negação dos direitos de cidadania a pontos extremados. 

Em suma, a união das teses de políticos conservadores com os interesses da indústria de armamentos e os de conglomerados econômicos ligados aos mais variados ramos econômicos representa, juntamente com o processo maior de globalização, uma séria ameaça às liberdades, pois a persistência de tal aliança conduzirá à limitação crescente, em nível mundial, da democracia e dos interesses da cidadania. Mesmo Barack Obama, cujas numerosas promessas quando candidato à presidência representaram para muitos de seus eleitores uma esperança de renovação de grande porte, chega ao fim de seu primeiro mandato com um pequeno acervo de realizações positivas.

Nesse quadro bastante conturbado vimos desabrochar, em toda sua plenitude, a China, ou melhor, uma "nova" China: soberana pela concretização, segundo velocidade ímpar, de seu imenso potencial econômico, mas cujo regime político, altamente concentrado, distingue-se por ser absolutamente fechado e discricionário. Ali, como em muitas outras nações, as liberdades veem-se coarctadas e os direitos de cidadania negados. Além disso, é forçoso reconhecer não estarmos, na China, em face de um sistema socioeconômico socialista, pois, enquanto sua vida política é regida de maneira ditatorial, sua economia pode ser tomada como um tipo híbrido de capitalismo no qual se encontram presentes tanto a iniciativa estatal como a privada; vale dizer, o governo chinês permaneceu avesso a mudanças de cunho político, mas aderiu abertamente a uma prática econômica dominada pelo capital. Eis descrito, pois, o último dos quatro fatores adversos anotados acima.

Como se depreende do exposto, esse conjunto de elementos negativos indica as evidentes e crescentes insuficiências do modo de produção capitalista com respeito à geração de condições favoráveis ao avanço da democracia e ao alargamento dos direitos de cidadania. Paralelamente, a indicar a insatisfação popular que se generaliza planetariamente, podemos arrolar episódios históricos da maior significância, tais como a Primavera Árabe, o movimento "Ocupe Wall Street" e a mobilização das populações das nações europeias contra a implementação de programas de "ajuste econômico" inspirados em moldes restritivos quanto a direitos econômicos das camadas detentoras de rendimentos mais modestos.

Disso não se infere, evidentemente, estarmos a vivenciar o surgimento de um novo mundo, pois se deve concluir, tão somente, o quão limitado é o "mundo" no qual nos encontramos: o mundo do capital!

Restam explicitados, assim, os entraves do capitalismo com referência à democracia e aos direitos de cidadania; dessarte, a ação das esquerdas pela reconquista e ampliação de direitos terá de se ocupar das forças retrógradas, de sorte a assegurar a efetivação das resoluções democraticamente alicerçadas e impedir o solapamento do Estado de direito. A luta pela democracia e pelos direitos de cidadania, ítens indispensáveis à constituição de uma eventual sociabilidade a ser instaurada futuramente, aponta, pois, para além das limitações próprias do modo de produção ora dominante. 

Obviamente, com esta nossa constatação não pretendemos propor, aos que tomam o socialismo como algo desejável, um programa de atuação política consubstanciado, unicamente, na defesa da democracia e dos aludidos direitos. Abalançamo-nos, no entanto, a afirmar que, na elaboração da referida plataforma, deve ser emprestada importância máxima aos dois fatores aqui realçados. 





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29.1.12

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E QUEM SEMPRE COMEU MELADO?




Para Tito, amigo inesquecível.

Iraci del Nero da Costa
São Paulo, janeiro de 2012



    O prefeito Gilberto Kassab, cujo oportunismo rasteiro é amplamente reconhecido por analistas políticos das mais variadas posturas, dá provas de sua ilusória e descarada matreirice ao tentar aproximar-se, concomitan-temente, de vários candidatos considerados aptos a obterem êxito nas próximas eleições municipais de São Paulo. E o faz de modo aberto, certamente numa tentativa de elevar o preço e a valia de seu apoio a este ou àquele pretendente a sucedê-lo no governo dos paulistanos. Dá sequência, assim, de maneira ainda mais grosseira à política de apoios universais adotada pelo ex-presidente Luiz Inácio L. da Silva, mestre consagrado na junção de alhos com bugalhos.
            
    Destarte, o prefeito Kassab procura escorar-se num tripé desconexo, porém vigoroso: em seu próprio partido, para não perdê-lo; nos velhos aliados do PSDB, para demonstrar fidelidade a acordos passados e no PT do ex-presidente e da atual presidente da República, cujo despreparado candidato poderá ser alavancado, marionete que é, pelas prestigiosas mãos desses seus dois mais destacados apoiadores.
                
    E assim segue a carruagem de um político inexpressivo que só pôde vicejar no paupérrimo e infértil terreno político ao qual fomos conduzidos pelo ex-presidente Luiz Inácio L. da Silva e seus acólitos, grande parte dos quais viu-se ejetada da carroça presidencial em decorrência da prática de atos tidos como ilegais.
            
    O mais impressionante nessas movimentações aparentemente caóticas do atual prefeito de São Paulo é o total descaso com respeito à consciência do eleitorado, pois, para ele, mostra-se relevante, tão somente, o trabalho a ser desenvolvido pelos manipuladores do voto popular. No âmbito dessa situação agônica vemos fenecer a vida política minimamente aceitável e florescer o oportunismo despudorado.
             
    De outra parte, pouco se pode prever com relação a esse jogo aviltante. Terá ele o condão de desqualificar o prefeito em tela? Muito provavelmente não, pois tudo poderá ser visto como meros negaceios plenamente aceitáveis no mundo político corrente. Afetará o PSD e seu desempenho nas eleições vindouras? Talvez sejam criados problemas internos gerados pela desconfiança despertada pelas ações de seu líder máximo; neste caso, as trocas de favores sempre mostrar-se-ão capazes de superar eventuais querelas. Abalar-se-á o relacionamento com o padrinho e a madrinha da candidatura do PT? Certamente não, pois estão eles acostumados a uma vivência política igualmente sem princípios.
             
    Cumpre lembrar, por fim, que até o momento nenhum candidato repudiou com clareza os meneios do chefe político do PSD, embora todos se mostrem ressabiados em face das atitudes inescrupulosas e velhacas de um político sem compromisso ideológico algum e capaz de faltar com o respeito devido ao candidato do próprio PSD cujo nascimento ele mesmo promoveu, partido este o qual, segundo suas palavras: "não será de direita, não será de esquerda, nem de centro".
        
             
                
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5.1.12

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O EPISÓDIO DO “MENSALÃO” COMO MARCO HISTÓRICO



Para Tito, cuja ausência se fez presença perene.

Iraci del Nero da Costa



     Em vez de aniquilar o governo petista, o episódio do “mensalão” projetou-o “para a frente e para o alto”. Tal impulso resultou, de fato, da utilização imediata por parte do presidente Luiz Inácio L. da Silva do programa assistencialista herdado do governo Fernando Henrique Cardoso, transformando-o em verdadeiro Coronelismo Governamental. (1) 
                
     Na verdade, o impacto gerado pela aludida crise revelou àquele hábil presidente – dado o pronto e incondicional apoio recebido de milhões de miseráveis os quais já contavam com o auxílio propiciado pelas práticas assistencialistas oferecidas pelo Estado – a imensa potencialidade política dos programas de ajuda aos mais carentes. Fechou-se, assim, a equação político-econômica cujo perfil já vinha se desenhando desde o início de seu governo; destarte, verificou-se ser possível garantir-se, com cerca de 5,5% do PIB, a boa vontade e o beneplácito das camadas economicamente dominante, e, com algo como 0,4% do mesmo indicador, comprar-se a aprovação, e posteriormente o voto, de milhões de desvalidos interessados, sobretudo e compreensivelmente, em receber uns poucos trocados de que tanto necessitam para viverem menos indignamente. Deu-se, assim, a manipulação política de uma oportuna ação de caráter assistencial, a qual conheceu o alargamento de seu campo de abrangência e passou a receber atenção redobrada no discurso presidencial.
              
     Luiz Inácio L. da Silva estendeu às camadas mais desprotegidas de nossa população a degradação política e ideológica a qual, marca secular da elite política e econômica do Brasil, a pouco e pouco espraiou-se pelos demais segmentos socioeconômicos da Colônia, depois Nação. Encerra-se, dessa maneira, mais um ciclo de nossa história, pois se pode afirmar achar-se toda nossa população engolfada pela degeneração política em sua forma de pensar, de agir e, sobretudo, de votar. Na realidade, a camada mais despossuída do eleitorado já conhecia tal modo perverso de agir, pois votava por interesse imediato e pessoal. A novidade introduzida por Luiz Inácio L. da Silva foi a de substituir os inúmeros “coronéis” de sempre pelo apoio ao seu governo e a si mesmo como líder carismático. Os seus sucessores na presidência da República certamente adotarão postura semelhante, de sorte a chamarem para si tal apoio e tais votos.
                
     Político rasteiro, porém sagaz, utilizou-se do Coronelismo Governamental para safar-se, pessoalmente, dos crimes e falcatruas perpetrados por seus mais chegados Ministros e auxiliares. Se é difícil aceitar que tais perversões não eram de seu conhecimento, muito fácil é admitir a ideia de ter sido ele o responsável pela compra de milhões de votos aos quais deveu-se sua reeleição e propiciaram a eleição de sua sucessora.
                       
     Encerra-se um ciclo e abre-se outro sobre o qual pouco se pode falar, pois não é possível distinguir por quanto tempo viveremos dominados pela possibilidade aberta ao presidente da República de comprar, mediante altas taxas de juros e práticas assistencialistas de caráter clientelístico, a própria reeleição ou a consagração de um seu apaniguado qualquer.
    
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1. Sobre esta questão chamamos a atenção do leitor para nossos artigos: COSTA, Iraci del Nero da. A voz do povo. Informações FIPE [boletim eletrônico]. São Paulo: FIPE, n. 309, p. 21-23, jun. de 2006. Disponível em:
http://www.fipe.org.br/Publicacoes/downloads/bif/2006/7_21-23-IRACI.pdf . COSTA, Iraci del Nero da. Brasil: os mesmos atores e novos papéis? Informações FIPE [boletim eletrônico]. São Paulo: FIPE, n. 312, p. 25-26, set. de 2006. Disponível em:
http://www.fipe.org.br/publicacoes/downloads/bif/2006/1_bif312.pdf. COSTA, Iraci del Nero da. Da política desenvolvimentista ao clientelismo de Estado. São Paulo, texto com divulgação pela Internet, setembro de 2007. Disponível em: http://iranero.blogspot.com/2007_09_01_archive.html. COSTA, Iraci del Nero da. Brasil: população redundante e coronelismo governamental. Fênix – Revista de História e Estudos Culturais. Uberlândia, v. 8, ano VIII, n. 3, set/dez de 2011. Disponível em: http://www.revistafenix.pro.br/.  
                 
             
               
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1.1.12

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BRASIL: A IMPOTÊNCIA DE NOSSOS TRÊS PODERES


PARA TITO, CUJA AUSÊNCIA SE FEZ PRESENTE PARA SEMPRE
                    
IRACI DEL NERO DA COSTA
São Paulo, 1 de janeiro de 2012

No Brasil, como fartamente noticiado, o Poder Judiciário vê-se envolvido em um mesquinho embate interno decorrente do corporativismo de alguns de seus membros que tentam obstar ações do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) o qual se encontra empenhado em investigar distintas facetas delituosas existentes em resoluções adotadas por integrantes irresponsáveis de instâncias estaduais do aludido poder.
                      
Ademais o Supremo Tribunal Federal tem-se mostrado pouco decidido a garantir a independência daquele Conselho, pois alguns dos ministros da suprema corte brasileira, mediante a concessão de liminares, parecem interessados em limitar o poder de investigação do CNJ, restringindo-o a órgão meramente decorativo.
                      
Não obstante a referida pequenez do entrevero ora em curso, tal luta parece-nos das mais salutares, pois desvela a mediocridade de uma parcela dos componentes de um poder considerado, por larga fatia da população, como austero e conspícuo.
                  
A exposição de algumas mazelas de nossa magistratura complementa o triste panorama com o qual os brasileiros nos deparamos ao refletirmos sobre nossos três poderes maiores sem o ranço carreado por falsas perspectivas ideológicas e deixado de lado o parti pris partidário.
                  
Dessarte, o Executivo Central acha-se corroído pela destituição de uma série de Ministros de Estado cujos cargos foram perdidos em decorrência de denúncias de atos corruptos ou ilegais imputados aos próprios ministros ou a seus auxiliares mais próximos. Alguns Governadores de Estado sofrem acusações recorrentes de variados feitios enquanto Prefeitos Municipais são cassados com base na alegação de que praticaram ou foram coniventes com respeito à malversação de recursos públicos.
                     
O Poder Legislativo, por seu turno, de há muito desacreditado, padece, em seus distintos níveis, de um sem número de procedimentos condenáveis que vão do nepotismo à venda de votos, passando pelo privilégio ilegal emprestado a instituições de fachada e por um conjunto inumerável de outros crimes.
                 
A assim chamada Lei da Ficha Limpa, com a aplicação da qual se tenta impedir a candidatura de malfeitores a qualquer cargo eletivo, atesta o quanto há por fazer nos terrenos enlameados tanto do legislativo como do executivo, elementos garantidores de uma vivência plenamente democrática tamanhamente desprezados por um grande número de políticos que a eles se aferram para deles se servirem maliciosamente.
                     
Enfim, sobretudo a contar da vigência da "Constituição Cidadã", a redemocratização da vida política nacional possibilitou, segundo escala anteriormente desconhecida, aos eleitores e à massa da população brasileira defrontarem-se, abertamente, com as pústulas que cobrem um vasto campo de nossas relações socioeconômicas e políticas, fazendo-se presentes também, e com força inaudita, nos três poderes magnos da nação.
                    
                      
                   
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