17.1.09

.......
.........................
...............................
A CRISE REAL
.................
....................

Iraci del Nero da Costa
São Paulo, 17 de janeiro de 2009

..........
.............
............

Vejo poucos analistas, políticos e economistas realçarem o fato de que a ação irresponsável de integrantes dos sistemas financeiro e bancário e de alguns proprietários de empresas que as enredaram na tentativa de ganhos fáceis teve impacto sobre a face real da economia, (1) impacto este que atuou correlatamente à ampliação das aventuras ensejadas pela falta de regulação do mercado financeiro. Se parte substantiva dos negócios escusos deu-se na nebulosa esfera da especulação sobre valores e preços futuros, não se revelou desprezível o acicate ao aumento da produção decorrente da ampliação irresponsável dos empréstimos e financiamentos.
....................
Na verdade, assim como eram quiméricos os aumentos observados nas compras de bens imóveis e de outros bens duráveis ou de consumo imediato, igualmente não sustentável teria de se mostrar a ampliação da produção e dos investimentos destinados a atender a tal aumento da demanda. Assim, considerar a crise que se abate sobre a economia mundial como decorrência do "estouro da bolha" situada na esfera financeira e bancária, revela postura simplista e reducionista.
...................
Em termos concretos, os elementos vinculados à crise deflagrada na área financeira já traziam em seu bojo vínculos imediatos e mediatos com a economia real. Destarte, deve-se esperar que esta última sofra um forte abalo, trauma este que não poderá ser superado sem o decantado "ajuste para baixo" previsto pelos economistas neoclássicos, os quais, adeptos irresponsáveis do capitalismo que são, o conhecem melhor do que políticos bem intencionados ou preocupados em esconder as "vergonhas" do modo de produção que nos vitima.
......................
Verdadeiras estas nossas postulações, vê-se como é perfunctória a "ajuda" ao sistema financeiro e o "socorro" emprestado aos bancos. Igualmente superficial, em termos do emprego, da produção e do consumo, mostra-se a violenta queda sofrida nas bolsas de valores de todo o planeta pelas ações que representam os ativos reais das empresas. Estes fenômenos, como avançado, não são capazes de obviar o aludido "ajuste para baixo".
.....................
Manter o ritmo anterior é, pois, impossível. Tentar vender a idéia de que é possível mantê-lo com pequenas correções aqui ou ali, é risível. Assim, além de medidas situadas na esfera da perfumaria, como isenção de imposto para compra de carros etc., é preciso pensar seriamente nos investimentos nas áreas da infra-estrutura, do ensino, da saúde etc. etc. Buscar respaldo para a massa de trabalhadores que, necessária e inevitavelmente, ficará desempregada é outro elemento a ser tomado em conta. As decantadas reformas estruturais, assim como as que dizem respeito ao sistema financeiro, fiscal e tributário deveriam ser lembradas. O sistema político que nos enxovalha não deveria ser esquecido, enfim, o conjunto inteiro das Reformas reclamadas há tanto teria de ser percorrido. (2) Mas, como sabemos, nada será feito; e esta é, em momento de crise, a crise real que, há séculos, atormenta os brasileiros.
..................
.................

NOTAS
................
(1) Não previ a crise estabelecendo-se a contar do sistema financeiro; esperava-a vinculada imediatamente ao lado real da economia e decorrente da ruptura dos déficits desproporcionais incorridos pela economia norte-americana. Cf. COSTA, Iraci del Nero da. EUA e CHINA: inimigos fraternais (observações pouco confiáveis de um não-expert). São Paulo, texto com divulgação pela Internet, 15 de janeiro de 2005.

(2) Isto equivale a dizer que as medidas ditas keynesianas não bastam para o caso do Brasil.
..............
..............
.......
..............................