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OPINIÕES DE UM LEIGO SOBRE LIDERANÇA CARISMÁTICA(1)
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Iraci del Nero da Costa
São Paulo, maio de 2006
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Segundo creio, a liderança carismática resulta de um processo dialético iterativo mediante o qual é estabelecida a relação entre o líder e seus liderados. Ambos os lados são levados por fina sensibilidade; de sua parte, o líder em construção capta as necessidades e anseios de um dado coletivo, este último, por sua vez, ao aprovar a postura de seu "escolhido", reforça e torna a cada passo mais claros os aludidos anseios. Este reforço positivo, tão logo é apreendido pelo líder, leva-o a burilar sua imagem e a aprimorar seu discurso; isto se dá a cada "troca de informações" de sorte a aproximar, cada vez mais, as perspectivas dos liderados e as atitudes e posições esposadas pelo líder. Nesse sentido pode-se afirmar que o líder escolhe a quem liderar e, concomitantemente, é selecionado pelos integrantes da massa que conduz. (2) Nesta situação, o papel ativo da liderança está em identificar e explicitar palmarmente os anseios e necessidades do coletivo; em chamar seus comandados à ação, mobilizando suas vontades e fazendo com que transcendam seus eventuais interesses pessoais imediatos e, por fim, em tornar claros os caminhos a seguir a fim de serem alcançados os objetivos almejados.
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Esse contínuo rebatimento dos dois pólos estende-se por largo período de tempo no correr do qual se consolida a confiança na liderança e se firma a disposição de segui-la; esta, por seu turno, compromete-se cada vez mais fortemente com as necessidades e aspirações de seus apoiadores.
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Mediante tal processo erigem-se, a meu ver, os líderes capazes de fixar-se perenemente no espírito dos povos, sejam eles religiosos, políticos ou a personificação de outras expressões culturais marcantes de dada época, nação ou comunidade.
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A mais recente emergência de liderança carismática a se dar entre nós foi a de Lula, tornado presidente da República após longo e profícuo período de atividade sindical e política. Tal liderança, não obstante, para muitos de seus apoiadores não se fixou definitivamente, pois a figura do presidente Luiz Inácio da Silva viu-se desgastada por haver ele rompido com as idéias e compromissos assumidos no correr das décadas que antecederam sua chegada à Presidência.
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Essa ruptura foi violenta, pois se deu tanto no plano objetivo como no subjetivo. Este último, em particular, define-se como decisivo na desconstrução da imagem de uma liderança carismática, pois é tomada pelos seguidores como prova de que foram vítimas de um engodo conscientemente pespegado por seu ex-líder. Examinemos os dois planos acima apontados.
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Em termos objetivos não foram cumpridas as promessas feitas nem implementados os programas anteriormente aceitos como absolutamente prioritários. Ao contrário, as medidas adotadas pelo governante chocaram-se frontalmente com a linha programática perfilhada no passado.
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Embora da maior gravidade, este descompasso entre o que poderia ser tido como o desejado e o efetivamente possível não parece ser forte o bastante para desbancar uma liderança carismática; para tanto faz-se necessário um golpe com caráter subjetivo, condição esta que explicita a mentira conscientemente formulada, a qual será tomada pelos seguidores como inequívoca traição impingida por seu líder.
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O paradoxal da situação em que se dá a constatação da existência do embuste acima aludido está no fato de depender tal reconhecimento de uma confissão cabal, insofismável e inteiramente honesta da própria liderança em questão.
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Luiz Inácio da Silva, ao admitir serem apenas bravatas tudo que professou e com o que se comprometeu antes de eleger-se presidente, efetuou a referida confissão condenando-se, assim, como um fraudador que tudo fez visando, tão-só, a galgar o poder máximo da República.
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Esse seu lapso de plena sinceridade foi-lhe fatal, pois o desnudou perante muitos de seus apoiadores aos quais restou, apenas, uma atitude: a de repudiar tamanha desfaçatez. (3) Tal decisão vê-se, ademais, integralmente abonada quando se atenta para o comportamento de vários dirigentes máximos do PT, já afastados, e para as ações desenvolvidas no âmbito do governo por muitos próceres petistas, igualmente demitidos.
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NOTAS
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(1) Não me ocupo aqui da assim chamada liderança carismática patológica ou autocrática, no âmbito da qual o líder determina, solitária e unilateralmente, o que há de se fazer e anelar enquanto os conduzidos, sem questionamentos, simplesmente acatam, passivamente, a orientação ditada por seu guia. Penso num tipo de liderança carismática própria de um ambiente abertamente democrático e na esfera da qual não ocorre a manipulação absoluta dos liderados, os quais atuam de maneira consciente e racional.
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(2) Embora toda e qualquer forma de liderança carismática padeça de limitações óbvias e possa ser indutora de graves distorções da vivência coletiva, sua existência deve ser vista, antes de outras considerações qualificadoras, como um instrumento de luta de homens por suas metas e ideais e da comunidade por seus interesses e necessidades.
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(3) Como tive oportunidade de consignar no escrito intitulado A voz do povo, uma parcela substantiva dos eleitores do atual presidente continua disposta a dar-lhe apoio eleitoral; trata-se, em grande medida, de integrantes do segmento mais desvalido de nossa população, grupo este que tem sido atendido pela política assistencial do governo Federal. Apercebendo-se disso, o presidente da República, recentemente, ampliou tanto a faixa populacional apta a receber auxílio como a quantia a ser repassada a cada beneficiário.
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Iraci del Nero da Costa
São Paulo, maio de 2006
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Segundo creio, a liderança carismática resulta de um processo dialético iterativo mediante o qual é estabelecida a relação entre o líder e seus liderados. Ambos os lados são levados por fina sensibilidade; de sua parte, o líder em construção capta as necessidades e anseios de um dado coletivo, este último, por sua vez, ao aprovar a postura de seu "escolhido", reforça e torna a cada passo mais claros os aludidos anseios. Este reforço positivo, tão logo é apreendido pelo líder, leva-o a burilar sua imagem e a aprimorar seu discurso; isto se dá a cada "troca de informações" de sorte a aproximar, cada vez mais, as perspectivas dos liderados e as atitudes e posições esposadas pelo líder. Nesse sentido pode-se afirmar que o líder escolhe a quem liderar e, concomitantemente, é selecionado pelos integrantes da massa que conduz. (2) Nesta situação, o papel ativo da liderança está em identificar e explicitar palmarmente os anseios e necessidades do coletivo; em chamar seus comandados à ação, mobilizando suas vontades e fazendo com que transcendam seus eventuais interesses pessoais imediatos e, por fim, em tornar claros os caminhos a seguir a fim de serem alcançados os objetivos almejados.
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Esse contínuo rebatimento dos dois pólos estende-se por largo período de tempo no correr do qual se consolida a confiança na liderança e se firma a disposição de segui-la; esta, por seu turno, compromete-se cada vez mais fortemente com as necessidades e aspirações de seus apoiadores.
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Mediante tal processo erigem-se, a meu ver, os líderes capazes de fixar-se perenemente no espírito dos povos, sejam eles religiosos, políticos ou a personificação de outras expressões culturais marcantes de dada época, nação ou comunidade.
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A mais recente emergência de liderança carismática a se dar entre nós foi a de Lula, tornado presidente da República após longo e profícuo período de atividade sindical e política. Tal liderança, não obstante, para muitos de seus apoiadores não se fixou definitivamente, pois a figura do presidente Luiz Inácio da Silva viu-se desgastada por haver ele rompido com as idéias e compromissos assumidos no correr das décadas que antecederam sua chegada à Presidência.
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Essa ruptura foi violenta, pois se deu tanto no plano objetivo como no subjetivo. Este último, em particular, define-se como decisivo na desconstrução da imagem de uma liderança carismática, pois é tomada pelos seguidores como prova de que foram vítimas de um engodo conscientemente pespegado por seu ex-líder. Examinemos os dois planos acima apontados.
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Em termos objetivos não foram cumpridas as promessas feitas nem implementados os programas anteriormente aceitos como absolutamente prioritários. Ao contrário, as medidas adotadas pelo governante chocaram-se frontalmente com a linha programática perfilhada no passado.
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Embora da maior gravidade, este descompasso entre o que poderia ser tido como o desejado e o efetivamente possível não parece ser forte o bastante para desbancar uma liderança carismática; para tanto faz-se necessário um golpe com caráter subjetivo, condição esta que explicita a mentira conscientemente formulada, a qual será tomada pelos seguidores como inequívoca traição impingida por seu líder.
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O paradoxal da situação em que se dá a constatação da existência do embuste acima aludido está no fato de depender tal reconhecimento de uma confissão cabal, insofismável e inteiramente honesta da própria liderança em questão.
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Luiz Inácio da Silva, ao admitir serem apenas bravatas tudo que professou e com o que se comprometeu antes de eleger-se presidente, efetuou a referida confissão condenando-se, assim, como um fraudador que tudo fez visando, tão-só, a galgar o poder máximo da República.
....................
Esse seu lapso de plena sinceridade foi-lhe fatal, pois o desnudou perante muitos de seus apoiadores aos quais restou, apenas, uma atitude: a de repudiar tamanha desfaçatez. (3) Tal decisão vê-se, ademais, integralmente abonada quando se atenta para o comportamento de vários dirigentes máximos do PT, já afastados, e para as ações desenvolvidas no âmbito do governo por muitos próceres petistas, igualmente demitidos.
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NOTAS
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(1) Não me ocupo aqui da assim chamada liderança carismática patológica ou autocrática, no âmbito da qual o líder determina, solitária e unilateralmente, o que há de se fazer e anelar enquanto os conduzidos, sem questionamentos, simplesmente acatam, passivamente, a orientação ditada por seu guia. Penso num tipo de liderança carismática própria de um ambiente abertamente democrático e na esfera da qual não ocorre a manipulação absoluta dos liderados, os quais atuam de maneira consciente e racional.
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(2) Embora toda e qualquer forma de liderança carismática padeça de limitações óbvias e possa ser indutora de graves distorções da vivência coletiva, sua existência deve ser vista, antes de outras considerações qualificadoras, como um instrumento de luta de homens por suas metas e ideais e da comunidade por seus interesses e necessidades.
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(3) Como tive oportunidade de consignar no escrito intitulado A voz do povo, uma parcela substantiva dos eleitores do atual presidente continua disposta a dar-lhe apoio eleitoral; trata-se, em grande medida, de integrantes do segmento mais desvalido de nossa população, grupo este que tem sido atendido pela política assistencial do governo Federal. Apercebendo-se disso, o presidente da República, recentemente, ampliou tanto a faixa populacional apta a receber auxílio como a quantia a ser repassada a cada beneficiário.
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