22.9.05

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A CRISE, ORA A CRISE
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Iraci del Nero da Costa
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Em face da crise política da qual o Brasil é presa, são amiudados os comentários sobre o descolamento do "político" com respeito ao "econômico". Como se afirma, a evidência de tal independência nos é propiciada pelo "bom" comportamento das variáveis e demais indicadores de ordem econômica numa quadra marcada por uma situação política na qual se multiplicam os escândalos e a corrupção toma os mais diversos escaninhos da vida partidária, do executivo federal e do poder legislativo nacional.
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Segundo alguns, tal separação entre as aludidas esferas, além de parecer surpreendente, assinalaria o amadurecimento por nós alcançado. Chega-se mesmo a efetuar comparações entre o Brasil e países altamente desenvolvidos nos quais se observaria essa indiferença do econômico vis-à-vis o político, mesmo quando nesta última instância verificam-se grandes turbulências.
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A par de ser discutível essa concepção de "amadurecimento", e além de ser possível ter havido a pretendida "aproximação" entre nós e nações mais desenvolvidas, parece ser recomendável uma reflexão mais detida sobre o fenômeno com o qual ora nos defrontamos.
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Tudo indica prevalecer nos dias correntes uma condição na qual tanto a presença do Estado na vida produtiva como a ação política desenvolvida pelos poderes executivo e legislativo tornaram-se irrelevantes com respeito ao desempenho da economia brasileira.
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Na verdade, vivenciamos desde o fim da década de 80 um processo – conscientemente perseguido seja pelo executivo seja pelo poder legislativo – que visa a isolar o plano econômico da ação política, em geral, e das ações econômicas empreendidas pelo Estado, em particular. Assim, tanto mudanças institucionais como alterações constitucionais têm sido implementadas com vistas a afastar direitos trabalhistas e a manietar a atuação do Estado sobre a órbita econômica. O governo e suas principais instituições gestoras têm agido de sorte a garantir o cumprimento de seus deveres para com os credores e a proporcionar ganhos substanciais ao capital especulativo. Trata-se, de fato, de uma maneira subalterna de o Brasil inserir-se na assim chamada mundialização das finanças a qual se define como uma das facetas da globalização do capital e da produção.
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Deu-se, assim, um efetivo afastamento do Estado com referência à área econômica. Este distanciamento torna-o, como avançado, irrelevante da perspectiva econômica e garante o referido descolamento, o qual, não obstante as afirmações bisonhas acima lembradas, não pode ser visto como surpreendente, pois decorre, como anotado, de uma postura política e ideológica assumida de maneira consciente e, como tal, aceita como elemento integrante do programa neoliberal sistematicamente implementado pelos distintos governantes aos quais coube, no correr dos últimos três lustros, decidir sobre os rumos da política econômica a ser adotada em âmbito nacional.
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Ademais, como anunciado acima, não parece ter ocorrido nenhum amadurecimento ou avanço; antes pelo contrário, deu-se uma verdadeira regressão, pois, além de dependermos cada vez mais das vicissitudes da economia mundial – correndo crescentemente o risco de nos tornarmos um mero apêndice dela –, cada vez mais nos comprometemos com a posição de grandes fornecedores de ganhos excepcionais para o capital financeiro.
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Eis, pois, esboçado o quadro no qual nos movimentaremos no futuro imediato: enquanto a economia patina, nossa vida política perde-se numa crise sem fim.

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