7.8.05

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DOIS ERROS FATAIS
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Iraci del Nero da Costa
São Paulo, 2 de agosto de 2005

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Ao que parece, uma parte degenerada da direção do PT, e mesmo uma parcela sadia de sua militância, confundiram a conquista do poder – por meio democrático e sujeito a regras institucionais e constitucionais estritas – com a tomada do poder por meios revolucionários, tenham eles o caráter da extrema esquerda ou da direita de feição nazi-fascista. No caso em que a chegada ao poder deve-se à luta armada, faz-se o que se quiser, pois a direção política é empolgada de maneira absoluta e não tem de se submeter a qualquer lei ou ordenamento maior que não seja o da vontade arbitrária dos novos mandantes.
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Se isso for verdade, teremos visto ocorrer no Brasil uma situação simétrica à vivenciada pela antiga URSS e pelo mundo colocado sob sua órbita. Naquele caso, os revolucionários não souberam reduzir a tomada armada da direção política às dimensões da conquista e da vivência democráticas, únicas formas capazes de garantir, no longo prazo, a conquista efetiva das mentes e dos corações de populações que se querem livres e independentes.
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Já os petistas acima referidos tentaram fazer da conquista democrática uma contra-facção de tomada armada do poder político e pretenderam imprimir a tal vitória, alcançada nas urnas, o mesmo conteúdo autoritário verificável no mundo dominado pelos soviéticos e na infeliz Cuba, a qual tanto amamos e pela qual tanto nos consternamos.

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No caso brasileiro o falseamento aludido evidencia-se por dois fatores claramente identificáveis.

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O primeiro prende-se à verificação imediata da inexistência, entre nós, dos atos de bravura e de autêntica abnegação observáveis tanto na história de Cuba como na da URSS.

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O segundo elemento poderia ser tido, a um tempo, como organizacional e ideológico, vale dizer, a estrutura na qual se integrou o grupo liderado por Luiz Inácio da Silva jamais distinguiu-se por uma dimensão ideológica mais elaborada, por um comprometimento mais profundo com a construção de um pensamento de esquerda solidamente embasado do ponto de vista teórico; não, ficou-se, tão-somente, na rama das declarações favoráveis a mudanças das quais resultaria uma sociedade mais igualitária e menos injusta. A facilidade com que se abandonaram tais ideais – agora tidos como meras bravatas – denuncia o absoluto vazio ideológico do grupo em apreço.

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A projeção de tal descomprometimento teórico no plano organizacional revela-se quando se considera a relação entre dois pólos distintos: de uma parte o grupo de Luiz Inácio da Silva, de outra banda o Partido dos Trabalhadores tomado em seu todo e as instituições governamentais. Não parece haver dúvida de que esse líder político atuou de modo a criar em torno de si um grupo de subordinados e seguidores que têm agido de maneira independente e solidária tanto no PT como nos organismos do governo sobre os quais conseguiram estabelecer seu domínio.

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Esse grupo, que se corrompeu de maneira cabal e ao qual podem ser atribuídos vários crimes políticos, administrativos e de ordem econômica, está cercado por uma liderança a qual, embora não esteja envolvida em crimes de ordem maior, mostra-se tíbia e vacilante; ademais, em muitas oportunidades, alguns de seus membros têm procurado, cínica e hipocritamente, encontrar explicações para a atuação daquele grupo em tudo assemelhado a uma verdadeira quadrilha.

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Aos líderes que não se deixaram levar pelo turbilhão de erros e à parte sadia da militância petista resta a tarefa de repensar a organização partidária, seus compromissos políticos e as perspectivas de ascensão ao poder, agora como uma conquista democrática e não como uma tomada irresponsável.

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Clio, a implacável deusa da História, decidirá, pelas urnas, se ainda resta uma oportunidade de recuperação para essa agremiação, ora falida.
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