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O PT E O ARDIL DA DESRAZÃO
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Iraci del Nero da Costa
São Paulo, setembro de 2004
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Ao dar continuidade à política econômica do governo anterior e ao adotar os mesmos comportamentos oportunistas e fisiológicos finamente burilados e aperfeiçoados pelo PSDB e pelo ex-presidente FHC, o PT e o atual presidente da República formularam uma interessante equação político-ideológica que se coloca, como um avantesma, a alguns honestos e sinceros homens de esquerda. Vejamo-la.
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Iraci del Nero da Costa
São Paulo, setembro de 2004
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Ao dar continuidade à política econômica do governo anterior e ao adotar os mesmos comportamentos oportunistas e fisiológicos finamente burilados e aperfeiçoados pelo PSDB e pelo ex-presidente FHC, o PT e o atual presidente da República formularam uma interessante equação político-ideológica que se coloca, como um avantesma, a alguns honestos e sinceros homens de esquerda. Vejamo-la.
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Ao esposar as aludidas política econômica e práticas indecentes, o PT emprestou novas forças ao derrotado PSDB e revigorou a sempre presente candidatura de FHC à presidência da República. Ora, reza a equação, uma vitória do PSDB em 2006 poderá acarretar um forte e rápido avanço do país pela trilha neoliberal, elevando-se, assim, o risco de se ver privatizado o pouco que resta do patrimônio nacional (CEF, BB e Petrobras, por exemplo). Destarte, é preciso apoiar o PT e a reeleição de Luiz Inácio da Silva a fim de evitar o mal maior.
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Ao esposar as aludidas política econômica e práticas indecentes, o PT emprestou novas forças ao derrotado PSDB e revigorou a sempre presente candidatura de FHC à presidência da República. Ora, reza a equação, uma vitória do PSDB em 2006 poderá acarretar um forte e rápido avanço do país pela trilha neoliberal, elevando-se, assim, o risco de se ver privatizado o pouco que resta do patrimônio nacional (CEF, BB e Petrobras, por exemplo). Destarte, é preciso apoiar o PT e a reeleição de Luiz Inácio da Silva a fim de evitar o mal maior.
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Em suma, é necessário aceitar a política econômica e os métodos desenvolvidos pelo PSDB, ora aplicados pelo PT, para impedir que tal política e tais procedimentos venham a ser retomados em grau ainda maior por um futuro governo do PSDB. Ou, em outros termos, deve-se prestigiar o atual "PSDB", que está no poder transvestido de PT, para impossibilitar a retomada do poder pelo autêntico PSDB; ou ainda: só nos resta tornarmo-nos peessedebistas para combatermos eficientemente o peessedebismo! Estejam onde estiverem, Stalin e Mao Tsé-Tung devem sorrir de inveja de um engodo tamanhamente colossal.
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Enfim, e aqui a opção trágica posta pela anunciada equação mostra-se em sua inteireza: é forçoso renunciarmos às tão esperadas e desejadas mudanças, impõe-se o abandono definitivo das tradicionais propostas da esquerda.
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Para as vítimas da armadilha embutida na formulação em análise, a única maneira de continuar sendo de esquerda está em aderir ao projeto neoliberal desenhado e implementado por FHC e pelo PSDB. Vale dizer, para provarmos que somos bons adeptos do pensamento de esquerda devemos nos transformar em pessoas de direita!
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A falácia presente neste reles "ardil da desrazão" é evidente. O risco não está na "volta" do PSDB, mas na continuidade de sua política de capitulação ao grande capital financeiro, no abandono das muito esperadas políticas capazes de mudar o perfil brutal de uma sociedade despudoradamente desumana e na aceitação de um programa de corte neoliberal no qual a preocupação com os despossuídos reflete-se, tão-só, numa coleção caótica e inoperante de meras intenções assistencialistas. O resto, como diria Marx, é saliva, conversa mole na qual se especializou o atual presidente da República, que fica a remoer uma lengalenga sentimentalóide incoerente e inconsistente.
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Em face de tal quadro é necessário afirmar com todas as letras que o pensamento político de esquerda autêntico e legítimo requer uma clara e decidida condenação do governo petista, de seus programas e de seus métodos.
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Mas, dirão alguns, tal postura levar-nos-á ao isolamento e restringir-nos-emos a um minúsculo grupo desorganizado, sem estrutura partidária e sem uma troca contínua e sistemática de informações e idéias. Sim, tudo isso é verdadeiro e corresponde à realidade com a qual nos defrontamos. Mas esta é a parte que nos toca e dela se infere a dimensão efetiva das tarefas a executar. A alternativa está em renegar nossas idéias e aspirações, está no esquecimento de um sonho, em larga medida utópico, de há muito concebido e calcado na dimensão humana que reside numa espécie predatória largamente dominada por interesses mesquinhos, mas igualmente integrada por espíritos generosos capazes de pensar projetos aparentemente irrealizáveis e de enfrentar desafios tidos, à primeira vista, como intransponíveis.
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